O Cachimbo

De pais à generais e marinheiros, o cachimbo é o símbolo de homens que vestem a experiência de vidas inteiras em seus rostos, exalando fumaça branca que sobe aos céus em uma dança com a brisa. 

Eles também são excelentes alternativas ao cigarro e uma forma mais refinada e interessante de consumir tabaco como um acompanhamento à uma bebida forte, boa conversa ou linha de pensamento.

Hoje vamos mergulhar no mundo dos cachimbos, explorando a história, variedade e experiências disponíveis para quem decide abraçar o hobby.

História

A maioria dos historiadores parece concordar que cachimbos são uma criação dos habitantes originais do continente americano, para os quais o fumar tabaco e substâncias alucinógenas tinha papel religioso.

Podemos ver uma imagem desta prática xamanística no fumar do famoso “cachimbo da paz”, ou calumet, uma cerimônia na qual um cachimbo era compartilhado entre membros de diferentes tribos para solidificar uma aliança.

No século 16, com a chegada dos europeus ao novo mundo, não demorou muito para que a prática de inalar tabaco fosse adotada de maneira quase universal na Europa, Ásia, África e Oriente Médio.

Este rápido avanço não era proporcionado apenas pelos fins recreativos do tabaco, mas também pela crença entre os europeus de que a planta possuia propriedades medicinais e era capaz de tratar uma miríade de enfermidades.

Uma evidência disto é o folhetim chamado “Tabaco”, escrito por Anthony Chute que afirmava uma conspiração dos médicos europeus para manter os benefícios do tabaco um segredo a fim de manter a erva fora do mercado farmacêutico. 

Com o amor pelo tabaco caminhava o uso do cachimbo como forma de degustar a erva, na Holanda, por exemplo, o hábito de fumar cachimbos foi adotado primeiro por estudantes de classe média e alta que buscavam imitar soldados Espanhóis.

Estes dois grupos se reuniam socialmente em casas de fumo onde fumavam a erva em seus cachimbos e conversavam ao ar livre, de forma que o hábito (impelido pelo elemento de novidade) foi logo adotado por todas as camadas da sociedade.

Com o tabaco se tornando uma febre continental durante o século 17, muitos esforços foram feitos por parte do poder estadual da para limitar seu consumo, com o caso mais extremo sendo na Turquia, onde um cidadão podia ser decapitado por fumar em público.

Apesar destas tentativas, o cachimbo nunca deixou de ser um símbolo de prestígio e intelectualidade, com figuras como Albert Einstein, Vincent Van Gogh e J.R.R Tolkien sendo indissociavelmente representados com seus cachimbos.

Hoje, embora o cachimbo não seja mais tão popular quanto costumava ser, o hábito de fumá-lo perdura entre aqueles que querem apreciar a erva de forma mais refinada e descontraída.

Como Preparar e Fumar o Seu Cachimbo

Fumar um cachimbo é uma atividade cuja natureza difere completamente de todas as outras formas de fumo. Ela exige uma mão firme, experiência e na ausência destas duas, uma dose razoável de paciência.

Sem alguma noção de como preencher e fumar um cachimbo, o fumante de primeira viagem pode acabar perdendo tempo e dinheiro, sem mencionar o crime que é desperdiçar um bom tabaco.

Para que isso não ocorra com você, siga os passos abaixo.

  1. O Inventário: Para fumar um cachimbo da forma que este foi feito para ser fumado, você precisará dos seguintes itens:
  • O próprio cachimbo
  • Tabaco
  • Uma ferramenta 3 em 1
  • Um filtro (Opcional)

2) Sobre As Partes do Cachimbo: Neste tutorial faremos muitas referências às diferentes partes do cachimbo, portanto, para que não haja confusão, lembre-se:

  •  Fornilho: O compartimento na cabeça do cachimbo onde colocamos e acendemos o tabaco.
  • Piteira: Parte do cachimbo de onde se extrai a fumaça, normalmente feita de plástico na cor preta.
  • Cabo: Onde fica o duto de ar por onde a fumaça passa para sair na piteira.

3) A Hora e o Lugar: Ao contrário do cigarro, o cachimbo não foi feito para ser fumado de forma rápida, fumá-lo é uma atividade de lazer, na qual você se dá um momento de tranquilidade para apreciar a experiência.

Então, a primeira coisa que você deve fazer é separar um momento do seu tempo e uma localização tranquila, de preferência sem muito ruído. Você pode optar por fumar sozinho, ou se tiver amigos que também gostam da atividade, pode convidá-los.

4) Preenchendo o fornilho: Com o cachimbo e o tabaco em mãos, está na hora de realizar sua inevitável união.

Uma prática comum entre muitos fumantes é deixar o tabaco em sua embalagem e, usando o cachimbo como uma espécie de colher, mergulhá-lo na erva para preenchê-lo, outros preferem simplesmente pinçar o tabaco com os dedos e inseri-lo no fornilho.

Com a primeira leva de tabaco no fundo do fornilho, você deve prensá-lo gentilmente no fundo do fornilho, mas não demais para não bloquear o acesso do duto de ar. Para tanto é conveniente o uso da ferramenta três em um que mencionamos, mas também pode usar seu dedo se preferir.

Faça isso e logo perceberá que mais espaço foi liberado no fornilho, continue a preencher e prensar até que esteja cheio. Mas cuidado, se prensar o fumo demais, ele queimará muito rápido, se prensar com pouca força, ele se apagará constantemente.

Talvez você erre a princípio, mas isto é natural, lembre-se que fumar o cachimbo é uma arte que exige técnica e experiência.

5) Acendendo O Cachimbo: Quanto à forma de acender o cachimbo, isto fica à sua discrição, muitos fumantes gostam de usar fósforos, outros de isqueiros de chama normais, outros ainda de isqueiros específicos para cachimbo.

Independentemente do meio que escolher, o método permanece o mesmo, com a chama acima do fornilho cheio, coloque sua boca na piteira e dê leves puxões de ar para trazer a chama ao fumo.

Faça isso repetidas vezes tentando distribuir o fogo igualmente sobre todas as partes da superfície do fumo. Não é incomum que o fumo se expanda com o calor, se isso acontecer, pegue novamente a sua ferramenta e o empurre gentilmente de volta para dentro.

O efeito desta última prensada do tabaco será uma camada de cinzas no topo do fornilho que impedirá que o cachimbo se apague. Cumprida esta etapa, apoie seus pés em algo confortável e aproveite o momento.

6) Amaciando O Cachimbo. Eis um segredo sobre cachimbos: Os melhores são sempre aqueles que já passaram por uma ou duas fumadas e possuem no interior de seus fornilhos uma camada de carvão com aproximadamente 1mm de espessura.

Quando um cachimbo chega a este estado, dizemos que ele alcançou a maturidade e agora proporcionará as melhores experiências de fumo.

7)  Esvaziando o cachimbo:  Quando chegamos ao fim da sessão de fumo, está na hora de esvaziar e limpar o cachimbo. Com a ajuda de sua fiél ferramenta, empurre o tabaco queimado para fora do fornilho em uma cesta de lixo.

De forma alguma se deve bater o cachimbo em qualquer lugar para esvaziá-lo, pois isto pode acabar danificando a cabeça ou cabo.

Caso sinta a necessidade, você pode inserir um limpador de cachimbo pela saída da piteira para limpar ela e o duto de ar.

Tipos de Tabaco e Como Degustar

Assim como o vinho pode ser dividido e classificado em diversas categorias com base nas diferentes uvas e métodos usados para produzi-lo, o mesmo se dá com o tabaco, cujas folhas existem em muitas variedades.

Eis abaixo, algumas das mais comuns:

Burley: Sem nenhum aditivo que altere seu sabor, o Burley se distingue pelo sabor levemente amargo com traços de nozes e chocolate, mas por se beneficiar de sabores mais adocicados ele tende a ser um componente da maioria dos blends com sabor.

Suas folhas tendem a ser curadas apenas com ar e quase não possuem açúcares naturais, motivo pelo qual ele absorve sabores com muita facilidade.

Virginia: Apesar de carregar o nome de um estado americano por razões históricas, o tabaco Virginia é produzido em muitas partes do mundo. 

Seu método de preparo envolve um processo de cura em celeiros especiais em alta temperatura por um período de uma semana a 10 dias. Este método tende a variar de acordo com a varietal da erva que se pretende produzir (vermelha, de forno, envelhecida, limão, clara ou escura.) 

Entretanto, todas tendem a começar com este mesmo processo, penduradas em um celeiro (semelhante a um trailer de acampamento sem janelas), onde a temperatura é gradualmente aumentada a fim de capturar os açúcares naturais da planta antes que suas partículas se rompam.

O resultado é um tabaco naturalmente doce, de cor dourada e tão seco que se esfarela ao toque. Este tabaco é então reidratado, depois disso ele já está pronto para transporte e processamento.

Orientais e Latakia: Tabacos orientais advém de diversas regiões do mediterraneo, desde a Turquia aos Balcãs. Suas folhas são pequenas, normalmente curadas pelo sol e se destacam por serem naturalmente aromáticas.

A produção de tabaco à moda oriental envolve o uso de ceras e óleos concentrados e voláteis que atribui a planta um caráter pujante e agridoce.

A Latakia, uma variante da Síria e de Cipro, começa como um tabaco oriental, mas recebe uma cura adicional com a fumaça de um fogo alimentado por madeiras aromáticas, que lhe dão um sabor apimentado e defumado. 

Perique: Um tabaco produzido exclusivamente na paróquia de St.James em Louisiana nos Estados Unidos. Sua produção começa com a cura por ar, mas logo passa por um processo especial onde é colocado em grandes barris de whisky e sujeito a grande pressão por até dezoito meses.

O tabaco é então retirado, as folhas separadas e então arejadas antes de serem recolocadas nos barris para passarem pelo mesmo processo novamente, o que se repete até três vezes.

Como se pode imaginar, o produto final é um tabaco de sabor intenso que raramente é fumado fora de um blend. Adicionado em pequenas doses a um blend, ele traz um quê de picância e um sabor que remete à figos, ameixas, azeite de oliva e pinho.

Cavendish: Diferente dos outros nomes nesta lista, cavendish não é um tipo de folha e pode ser produzido a partir de qualquer tabaco. O que define esta modalidade de fumo é o processamento intenso, seja para adocicá-lo, defumá-lo, dá-lo novos sabores etc.

Algumas categorias de Cavendish foram tão alteradas que não se pode definir a variedade da folha.

Dark Fired Kentucky: Também chamado de DFK, o Dark Fired Kentucky é um parente próximo do Burley, se diferenciando pelo fato de ser curado na fumaça com as mesmas madeiras usadas por mestres churrasqueiros.

 Isto dá ao DFK um sabor únicamente defumado e terroso, com toques de doçura natural e a fumaça altera a química do tabaco, aumentando seus níveis de nicotina.

Como apreciar o Tabaco: A verdadeira alegria do fumante de cachimbo não está apenas em experimentar e descobrir o sabor de cada uma das varietais acima, mas também em descobrir como elas conversam umas com as outras.

Portanto, não tenha medo de misturar os diversos sabores e criar os seus próprios blends, ou até mesmo de experimentar os blends de outras pessoas. Uma grande quantidade de pesquisa e preparo foi investida em blends como o Autumn Evening da Cornell & Diehl.

E lembre-se sempre: a fumaça do cachimbo não foi feita para ser inalada, você deve prender ela na boca e soltá-la a fim de absorver o seu verdadeiro sabor sem comprometer sua saúde.

Tipos de Cachimbo

A estética tem um papel importantíssimo no uso do cachimbo, nós não o fumamos meramente pela qualidade do tabaco, mas também por entendermos o cachimbo como um instrumento de beleza.

Por causa desta visão, um fumante encontra quase infinitas possibilidades de expressar seu estilo pessoal no cachimbo que decide fumar e como não pensamos em privar o leitor desta oportunidade, eis abaixo algumas das modalidades mais comuns de cachimbo:

Apple: Cachimbo com a cabeça ligeiramente arredondada, de forma que se assemelha a uma maçã. Seu cabo pode ser tanto reto quanto curvado, dependendo do modelo.

Billiard: O avô de todos os cachimbos, a partir do qual todos os outros formatos se desenvolveram. Sua cabeça é de tamanho mediano e seu cabo reto. Um ótimo cachimbo para principiantes.

Billiard Bent/ Classic Bent: Assim como o nome sugere, este é o modelo clássico, o cachimbo com mais cara de cachimbo, que se inspira no modelo billiard.

Canadian: O Canadian tem um cabo caracteristicamente longo, uma piteira curta e uma cabeça à moda Billiard ligeiramente curvado. Tomado por muitos fumantes como o modelo mais elegante.

Bulldog: A cabeça do Bulldog é grande e bem arredondada, com o cabo esculpido de uma forma bem característica do modelo. Modelos com o cabo mais curvo são chamados bent bulldog.

Churchwarden:  Um nobre descendente dos antigos cachimbos de barro, o churchwarden também é chamado de “cachimbo de leitura” pelo seu cabo extremamente longo que permite apoiar a mão que segura a cabeça na cintura.

Lovat: Muito semelhante ao Billiard, exceto pela piteira reduzida.

Pot: Caracterizado pela sua cabeça pequena e arredondada, ideal para iniciantes, desde que seu diâmetro não seja muito grande.

Filtros

Um detalhe importante e muitas vezes ignorado sobre o hábito de fumar cachimbos é a necessidade que alguns terão de um filtro descartável no interior do cabo para limpar a fumaça e bloquear o líquido liberado pelo tabaco durante a queima.

Alguns cachimbos já virão com um filtro de metal já da fábrica, mas outros talvez exijam que você compre um filtro de tecido ou até mesmo madeira que seja compatível com o formato e tamanho do duto de ar.

Para não errar, você pode sempre inspecionar o seu próprio cachimbo, normalmente na junta cabeça com o cabo, por um número que confirma a espessura do duto de ar.

Tabacos para Iniciantes

Roger Moore, mid 1950s

 Cobblestone Maple Walnut: Uma excelente mistura de Burley e Cavendish escuro dominam este fumo, com o distinto sabor de bordo e nozes e a doçura do virginia por trás fazendo o fumo todo ter gosto de café da manhã.

Peter Stokkebye PS 23 B&B: Um aromático suave que deixa sua erva base brilhar e com doses bem equilibradas de nicotina. Perfeito para quem vai fumar pela primeira vez.

Hearth and Home Classic Burley Kake: Um aromático suave que escapa do cavendish com uma mistura de quatro Burleys, Virginias Vermelhas, rum de coco e anis em um blend de fácil degustação.

Sutliff  504C Aromatic English: O rico sabor amadeirado da Latakia com o corpo de um Burley, uma das melhores escolhas para o seu primeiro tabaco oriental.

Cornell & Diehl Good Morning: No centro deste bom dia caloroso da Cornell Diehl estão as Virgínias Vermelhas e a Latakia em uma dança onde a primeira apascenta a força da segunda.

Conclusão

Se você gostaria de transformar seus momentos de ócio em uma oportunidade de meditar e refletir enquanto entretém o seu palato com novas sensações, o hábito de fumar cachimbo certamente é para você.

Entretanto, se você for dar o primeiro passo para dentro deste mundo cheio de variedades, saiba que este é um hábito que exige um certo investimento, e não estamos falando só de tempo.

Uma lata com 50 gramas de um blend de alto nível chega a custar R$229, então se você quiser experimentar o melhor do cachimbo, lembre de contatar o seu planner para que ele te auxilie em conseguir alguns dos melhores nomes do mercado.

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