Charutos, uma paixão ardente

Se o cachimbo é o hábito do sábio, o charuto é o hábito do rei e pode ser encontrado nas mãos e bocas de algumas das figuras mais significativas da história, desde o Rei Eduardo VII da Inglaterra, até Michael Jordan.

Fumar um charuto é o direito daqueles que chegaram onde pretendiam chegar, mas como é possível que este simples hábito tenha alçado tão alto na estima desses indivíduos tão significantes? E mais importante, o que é necessário para nos unir a eles no fumo?

Isto é o que exploraremos na matéria de hoje, onde descobriremos as origens do charuto, sua significância e alguns dos princípios básicos para adentrar nesta cultura tão rica e tradicional.

A história do charuto

É um consenso entre historiadores do tabaco que o charuto tenha sido criado pelos antigos maias que costumavam fumar a erva enrolando-a em folhas de palmeira, como representado em um pote de barro do século X encontrado por arqueólogos.

Quando Colombo e seus homens chegaram às Américas, eles tornaram-se os primeiros membros do velho mundo a adquirirem o hábito de fumar tabaco, levando folhas da planta consigo em seu retorno à Espanha.

Uma vez na Europa, o fumo do tabaco na forma de charutos rapidamente se difundiu a partir do mundo ibérico. Primeiro nas cortes de Espanha e Portugal, depois se popularizou em todas as camadas da sociedade.

Foi o embaixador francês em Portugal, Jean Nicot (cujo nome gerou o termo nicotina), a trazer o hábito para a França, mais ou menos na mesma época em que fabricantes espanhóis começaram a enrolar tabaco seco em papel, ao invés de folhas.

Com a demanda por tabaco crescendo exponencialmente na Europa, a Ilha de Cuba, reivindicada por Colombo para a Espanha, logo se tornou um polo de plantação de tabaco e produção de charutos devido ao seu clima quente e solo fértil.

Não demorou muito para que a coroa espanhola estabelecesse um monopólio do tabaco, determinando que os habitantes da ilha só poderiam vender seu produto para barcos espanhóis.

Charutos logo se tornaram extremamente populares em ambos os lados do Atlântico, com a cidade de Tampa, na Flórida, que se transformou em um centro de produção e degustação, em grande parte, graças à imigração de produtores cubanos.

Embora os cigarros tenham eventualmente se tornado a forma mais comum de se consumir tabaco, os charutos nunca saíram verdadeiramente de moda, se tornando um símbolo de status utilizados por figuras desde o Rei Eduardo VII até Michael Jordan.

Em 1962, em meio ao clima sociopolítico da guerra fria, o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, ordenou um embargo sobre Cuba que incluía o impedimento dos charutos cubanos de entrarem no país.

O que não é um fato difundido, porém, é que antes de estabelecer o embargo, o presidente dos Estados Unidos ordenou que sua secretária comprasse quantos charutos pudesse encontrar, chegando a estocar mais de 1.200 unidades.

Simbolismo do Charuto

Como descrito na introdução, charutos eram o prazer de escolha de algumas das figuras mais importantes da história em grande parte por causa de seu status de iguaria, mas também pela cultura em volta do hábito que se formou em meio a elite da Europa e EUA quanto ao seu uso.

O charuto é um símbolo de sucesso, autoridade e masculinidade (o que não impede mulheres de apreciar seu fumo) e seu consumo está associado à comemoração de grandes conquistas, a discussão de grandes ideias e o descanso após grandes esforços.

A cultura de fumar charutos também se distingue do fumo de cigarros por seu refinamento e propósito distinto. Um homem que acende um cigarro não espera passar mais de 10 minutos com ele antes de descartá-lo e o fuma exclusivamente por seu efeito fisiológico, enquanto o fumante de charuto se dedica à sua degustação por um período extenso de tempo.

Há também um componente social do charuto que não é compartilhado sequer pelo cachimbo, o convite à conversa. Enquanto fumar um cachimbo é uma atividade solitária, ser convidado para fumar um charuto imediatamente desperta interesse em uma pessoa, por mais que ela mesma não tenha este costume.

O tempo prolongado de consumo do charuto também retira a pressa destas interações e, conforme a linha das cinzas regride, é possível ter as mais variadas discussões.

Uma Breve História das Mulheres e dos Charutos

Quanto às mulheres e aos charutos, a evidência mais antiga de mulheres fumando está na cultura asteca do século XIV. O tabaco era usado para fins espirituais e medicinais por médicas e parteiras. Uma ilustração mostra mulheres astecas recebendo flores e cachimbos antes de comer em um banquete.

Em 1492, durante suas explorações nas Américas, Cristóvão Colombo recebeu folhas secas de tabaco como presente dos índios americanos. Logo depois, os marinheiros trouxeram o tabaco de volta para a Europa e a planta foi cultivada em todo o continente.

Em 1735, John Cockburn, um inglês viajando pela Costa Rica, observou: “Estes senhores nos deram alguns seegars (sic)… são folhas de tabaco enroladas de tal maneira que servem tanto para um cachimbo quanto para o próprio tabaco. Estes, as senhoras, assim como os senhores, gostam muito de fumar.”

Talvez o primeiro exemplo de estereótipos de homens e mulheres com charutos possa ser encontrado no conto de Rudyard Kipling de 1899, “The Betrothed”. Uma noiva diz ao futuro marido: “Querido, você deve escolher entre mim e seus charutos”. Rudyard Kipling disse a frase infame: “Uma mulher é apenas uma mulher, mas um bom charuto é uma fumaça”.

Na virada do século, as mulheres americanas e européias gostavam de fumar. Mas a relação entre as mulheres e os charutos (ou o fumo em geral) continuou sendo um caso de amor secreto.

Marlene Dietrich fumava enquanto assistia a shows burlescos no Frisky Pom-Pom Club em Hollywood. Dizem que ela começou a fumar charutos em Berlim na década de 1920. Na época, Berlim tinha clubes de charutos apenas para mulheres, frequentados por escritores, artistas e outros que viviam o que se poderia chamar de estilo de vida hedonista. Em uma participação especial, Dietrich foi mostrado fumando um charuto no filme “Touch of Evil”.

Clubes secretos de charutos surgiram rapidamente nas principais cidades dos Estados Unidos. Os charutos eram considerados propriedade e privilégio dos homens, portanto, as mulheres tinham que fumar em privado. As mulheres independentes sentiam que tinham o mesmo direito aos mesmos poderes que os homens chamavam de seus. Durante o boom do charuto na década de 1990, as mulheres começaram a fumar charutos abertamente.

Nas últimas décadas, mais e mais mulheres se tornaram notáveis sobre o passatempo. As mulheres começaram a descobrir os charutos por meio de um parceiro, de amigas ou de outras mulheres. Talvez a razão pela qual as mulheres começaram a gostar tanto de charutos seja porque há algo deliciosamente perverso neles. Participar do que era conhecido apenas como um hábito masculino também já foi intrigante e perigoso para a mulher moderna.

Mas a maioria das mulheres diz que fuma pela mesma razão que os homens; fumar charutos é puramente relaxante e agradável. Em 2013, foi relatado que cerca de 2% das mulheres americanas dizem que fumam charutos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Isso é cerca de 3,2 milhões de mulheres. Hoje, estima-se que esse número pode chegar a cinco por cento.

Anatomia do charuto

Para acender um charuto é necessário um conhecimento básico sobre sua anatomia. Nós temos:

  • Cabeça: a ponta onde as tiras de tabaco são amarradas a fim de dar o acabamento do charuto.
  • Pé: a ponta oposta à cabeça que é acendida.
  • Corpo: a extensão entre a cabeça e o pé.
  • Capa: a camada externa do charuto, feita com as folhas mais baixas da planta por serem mais velhas e duráveis. Utilizada para dar o acabamento do charuto.
  • Capote: feito com os rejeitos da capa, isto é, com folhas que tenham imperfeições físicas, o capote é a camada entre a capa e o miolo responsável por dar ao charuto sua forma e textura.
  • Miolo: as folhas mais novas são usadas no miolo, a parte mais interior do charuto que lhe dá sabor e aroma.

Como acender um charuto

Agora que entende a estrutura do charuto, você precisará de apenas duas ferramentas especiais:

  • Um cortador, também chamado de guilhotina.
  • Um isqueiro estilo maçarico.

Primeiro, deve-se cortar a ponta do charuto mais próxima da “bandeira” que exibe sua marca com a guilhotina, isto é, a cabeça para ter um melhor controle do fluxo de fumaça.

Existem muitos estilos de cortadores de charutos além da guilhotina tradicional, incluindo aparatos focados em furar a cabeça e outros que realizam o corte de forma diferente a fim de alcançar um determinado fim sensorial.

Há inclusive aqueles que preferem cortar o charuto com uma faca, ou até mesmo quem fure a cabeça com um palito de fósforo para obter o mesmo fim. Cada fumante terá seu ritual e criar o seu é parte do prazer.

Agora, é importante que você deixe um pouco do papel de embrulho do charuto intacto, a fim de impedir que o charuto de se desfaça, o que seria um terrível desperdício de um bom tabaco.

Cortada a cabeça, está na hora de acender os pés e é aqui que o isqueiro de maçarico se faz tão útil. Este modelo permite o ajuste da chama para que o charuto seja aceso indiretamente, o que preserva suas propriedades.

Aproxime gentilmente o pé do charuto da chama, sem deixar que esta encoste nele. Com isso, o butano não irá estragar o gosto. Assim que a orla do charuto começar a enegrecer, gire o charuto em seu eixo a fim de alcançar uma chama regular e uniforme.

Quando o pé inteiro estiver brilhando alaranjado, dê as primeiras leves tragadas a fim de iniciar o trajeto da chama ao longo do corpo. Pegue uma dose de uísque e aproveite.

Degustação

Entretanto, fumar um charuto de nada adiantará se você não sabe como apreciá-lo. Lembre-se que esta é quase uma experiência gastronômica, como a degustação de vinhos, e exige uma certa arte.

A primeira regra desta arte é tomar o seu tempo. Traga a fumaça para sua boca e deixe-a lá, assim você terá uma noção melhor da evolução do sabor da fumaça e suas nuances. Depois que estas sensações se desenrolarem, solte a fumaça.

Curiosamente, o seu nariz será muito mais sensível a certos sabores na fumaça do que a sua língua, então tente exalar nasalmente a fim de captar novas notas do charuto na saída. Isto, é claro, sem permitir que a fumaça passe para seus pulmões.

Esta técnica exige prática, então escolha um charuto mais leve e realize este movimento lentamente a cada tragada a fim de se familiarizar.

É importante lembrar que a fumaça do charuto não deve ser inalada, pois isso não nos permite notar estas características acima, além disso sua fumaça é muito mais concentrada e pode causar mal-estar.

5 charutos para começar

Quando decidimos que vamos fumar um charuto, uma pergunta importante deve ser feita logo em seguida é: Qual charuto? Existe uma variedade enorme de marcas, regiões, formatos e sabores a escolher e devemos começar por algum lugar, correto?

Veja abaixo alguns dos nomes a memorizar para a sua primeira visita à tabacaria:

  • Romeo Y Julieta Capulet: com um miolo de Honduras e capa do Equador, possui um sabor que remonta a creme brulé, caramelo e couro. Um sabor leve, perfeito para o seu primeiro fumo.
  • Oliva Connecticut Reserve: embrulhado com tabaco da região de Connecticut, esta bandeira trás notas de café, madeira e terra, envoltos em um sotaque adocicado. Uma excelente escolha para quem gosta de sabores mais amargos.
  • Acid: se a cultura do charuto fosse um reino, o Acid guardaria seus portões. Seu criador, Jonathan Drew, é reconhecido mundialmente pela sua habilidade de criar infusões de charuto únicas através de seu método nada ortodoxo.
  • Rocky Patel American Market Selection: um charuto saboroso e barato é o favorito dos iniciantes pelo seu sabor de nozes e especiarias doces com sotaque terroso.
  • Perdomo Champagne: adorado tanto por novatos quanto pelos veteranos, este cigarro com capa de Connecticut e capote nicaraguense traz em si o sabor de amêndoas, café e carvalho.

Acompanhamentos

Aged cognac and cigar on old humidor

Muitos dirão que um bom charuto só pode ser acompanhado por um bom uísque. Também é verdade que poucos prazeres na vida preenchem a lacuna de um dia de trabalho quanto esta combinação, mas outras são perfeitamente possíveis.

A verdade é que qualquer bebida pode acompanhar um charuto, desde que seja o charuto certo. Como muitas coisas na vida, trata-se menos de uma regra e mais de um princípio (dois, na verdade).

O primeiro é a harmonia. Isto é, um charuto pode ser combinado com bebidas que compartilhem de seu sabor e propriedades. Um charuto terroso, por exemplo, ficará ótimo com um vinho vermelho mais forte.

Paralelo a este método temos o da contradição, isto é, combinar um charuto com uma bebida que seja seu oposto, brincando com extremos opostos. Neste caso, se está fumando um charuto mais adocicado, combine-o com um bom e forte uísque envelhecido.

Claro, não precisa ser apenas bebidas alcoólicas. O café é também uma excelente opção para fazer par com certos charutos, existindo até mesmo aqueles confeccionados para fazer parte do café da manhã.

Conclusão

A cultura do charuto constitui um mundo em si, um mundo autocontido, mas grande o suficiente para abrigar quem queira fazer parte dele, independente de idade, gênero ou experiência.

Pelo contrário, esta é uma cultura que lhe convida à mesa, a novas experiências e prazeres que complementam e colorem a vida sem tomá-la, é um convite a exploração de um reino conhecido por poucos.

Então, se você quer dar o primeiro passo para penetrar neste mundo, a Life Style Hall ficará mais do que feliz em guiá-lo através de um dos nossos brokers, tudo o que precisa fazer é entrar em contato conosco.

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